Eu gosto muito de política. Não, não é nada disso... eu gosto só de estudar política mesmo. E, naturalmente, gosto de ver o noticiário de política e até mesmo de discutir política. Sempre tive, entretanto, muita dificuldade de (primeiro) me posicionar nas discussões sobre política e (segundo) me satisfazer com os insistentes rótulos que surgem nessas discussões. Explico o por quê.
Nas análises políticas tradicionais (e ainda absolutamente dominantes) o mundo se divide em três: os que são da esquerda, os da direita e os do centro. Assim, na dinâmica baseada nessa perspectiva a direita normalmente faz uma aliança com o centro (até porque a esquerda não faz aliança com ninguém que não seja esquerda e, se fizer, já deixou de ser esquerda) e eles ficam brigando entre si quase (?) que indefinidamente.
Mas o mais interessante em tudo isso é que um grupo sempre chama o outro de reacionário, antigo. Os de direita chamam os de esquerda soviéticos, stalinistas, bobos; os de esquerda chamam os de direita de reacionários, capitalistas, escrotos; e os de centro, bom, no caso dos de centro os de esquerda chamam de “de direita” e os de direita não chamam de nada pra “não brigar e perder apoio”.
E sabe o pior? Estão todos certos. Não nos xingamentos (é claro), mas em princípio. Todos os princípios e teorias políticas que estão por ai (digo fora do congresso, porque lá há quase nada de princípio e teoria política) estão ultrapassados, outdated, velhos, pecos.
Se quiser eu especifico.
Os de Esquerda se baseiam, sempre, em Marx; e ainda mudam muito pouco quando não estão no Poder. Marx andava por aí no século XIX pós-revolução industrial, antes das conquistas sindicais quando, eu imagino, as classes eram muito mais óbvias e as relações sociais mais tensas. Partir desses princípios (e principalmente de que é possível compreender e propor soluções para uma sociedade dividindo-a entre produtores e não-produtores e ainda assumindo que eles se odeiam) para atuar politicamente no século XXI é antigo, bobo.
Os de Direita se baseiam, quase sempre, nos modelos liberais. Liberais, liberais mesmo – não neoliberais. Os neoliberais são muito mais uma adaptação do liberalismo à realidade da economia financeira do que qualquer coisa. Anyways. Esse liberalismo aí de que falo é aquele mesmo: Adam Smith, século XVIII; mão invisível e aquelas coisas que só funcionam mesmo em feira de banana. É escroto.
Os de Centro, bom, os de centro são um caso a parte. Se dividem normalmente em dois. Os de centro-esquerda, mais moderninhos, se baseiam numa teoria da década de 30. São do time do Estado de bem estar social, intervenção do Estado na economia, essas coisas. Keynes, década de 30. Já os de centro-direita eu confesso que não entendo. Não sei o que esses caras querem (e se existem), tenho a impressão que eles são simplesmente uma direita envergonhada. Quem quiser que me corrija (ou esclareça).
Enfim (e por fim), me parece inaceitável, absurdo, bizarro que a imensa maioria das pessoas que se propõem a fazer, discutir e ensinar política se baseiem em teorias com pelo menos 70 anos de idade; de antes da Arte Moderna, do Vietnã, dos Stones, da contra-cultura, da antropofagia cultural e, sobre tudo, de antes do pós-modernismo de Derrida e Foucault,. É insuficiente, pobre, bobo, triste.
*** Importante: quem me chamou a atenção para o fato de que não há progressistas na política atual (nem os que se autodenominam progressistas) foi o insubstituível Edward Said numa frase secundária em um dos artigos da (não menos indispensável) coletânea Cultura e Política. Esse cara é bom.